segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Entrevista - emojis, stickers e cia - Parte Final


6-Qual a explicação para o uso e adequação das linguagens não verbais (como memes, stickers, gifs e emojis) no cotidiano dos jovens?

Sobre a linguagem visual, creio que a maior alteração propiciada pelas tecnologias digitais foi a possibilidade de termos texto e imagem num único suporte, coisa que antes estava restrita ao uso profissional como nas propagandas, por exemplo, ou era trabalhosa e custosa demais; em muitos casos envolvia habilidades artísticas que muitas pessoas – jovens ou não – preferiam não utilizá-la. Tome-se como exemplo nosso ensino de língua portuguesa ser até hoje, em grande parte, voltado apenas para a parte verbal da comunicação, o que chamamos de logocentrismo.
Se algum  trabalho com imagem é desenvolvido em currículos assim, ele está sempre a cargo do “professor de artes”.
Stickers e emojis citados por você são um vocabulário imagético simplificado que pessoas de qualquer idade utilizam para completar suas mensagens verbais, dar o tom (humor, indignação, raiva, etc.), pontuar, como um sinal de positivo, ou de um beijo, para finalizar um diálogo. Raramente, porém, alguém manterá um diálogo apenas com emojis, pois as imagens, quer sejam ideogramáticas como stickers e emojis ou não, possuem suas limitações sígnicas e, portanto, precisam dos signos verbais para criar os sentidos desejados pelos interlocutores e eliminar ambiguidades.
A difusão do uso dos stickers e emojis está, portanto, relacionada aos aplicativos que, ao disponibilizarem esse “vocabulário” aos seus usuários, não apenas propiciam e facilitam seu uso, tornando-os triviais, como difundem essa prática de escrita multimodal – e tudo isso, sem que a escola ensine. Há, pode-se dizer, uma escola fora da escola, ensinando as pessoas a escrever textos multimodais e a se comunicar. Seria bom, porém, que a escola e os professores, não apenas os de língua portuguesa, refletissem sobre essa forma de escrita e a inserisse no currículo escolar, para que a instituição escolar continue sendo protagonista não apenas das práticas atuais de escrita e de interação, como também para ensinar o que os aplicativos não ensinam, ou seja, o uso ético, consciente e responsável da escrita, para que evitem, por exemplo, a proliferação de boatos, mentiras, fake news, etc. que, como se sabe, podem ser criados tanto em construções verbais apenas, mas, principalmente, em fotomontagens e construções visuais e em textos verbo-visuais.
Para finalizar, observe-se que as tecnologias atuais não apenas possibilitaram o uso abundante de imagens em nossas comunicações, mas também a utilização da linguagem sonora, ou seja, muitos textos que circulam pelas redes sociais são audiovisuais também!

7 - Será que num futuro breve, teremos mais formas de linguagens através de meios tecnológicos?

Não se conhecem limites para as potencialidades humanas em todas as áreas. Com o advento da conexão 5G e a IoT (Internet das Coisas, em inglês), certamente, muita coisa mudará em nossa comunicação e no nosso modo de viver. Se refletirmos sobre  quantas mudanças significativas o livro trouxe ao nosso modo de vida, sobre o que a rede mundial de computadores, criada em 1991,  trouxe de mudanças comportamentais, cognitivas, sociais e políticas, mesmo assim, não somos capazes de prever ou mesmo de imaginar o que virá com a conexão 5G.
O certo é que somos o que clicamos. Nossos cliques na internet valem dinheiro, geram bancos de dados, os big data,  de hábitos de consumo, de perfis psicológicos e de toda sorte de informações que as grandes companhias globais como Google e Amazon, por exemplo, e os governos mundiais desejarem. Nossa história recente (e atual) está repleta de exemplos dos usos dos dados coletados.
Por fim, embora possa parecer ingênua, coisa de jovem, assunto não bem-vindo no currículo e nas práticas escolares, a internet, as redes sociais e toda a comunicação que circula pela rede configura e reconfigura nosso presente e nosso futuro a cada instante.


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