6-Qual a explicação
para o uso e adequação das linguagens não verbais (como memes, stickers, gifs e
emojis) no cotidiano dos jovens?
Sobre a linguagem visual, creio que a maior alteração propiciada
pelas tecnologias digitais foi a possibilidade de termos texto e imagem num
único suporte, coisa que antes estava restrita ao uso profissional como nas
propagandas, por exemplo, ou era trabalhosa e custosa demais; em muitos casos
envolvia habilidades artísticas que muitas pessoas – jovens ou não – preferiam
não utilizá-la. Tome-se como exemplo nosso ensino de língua portuguesa ser até
hoje, em grande parte, voltado apenas para a parte verbal da comunicação, o que
chamamos de logocentrismo.
Se algum trabalho com
imagem é desenvolvido em currículos assim, ele está sempre a cargo do
“professor de artes”.
Stickers e emojis citados por você são um vocabulário
imagético simplificado que pessoas de qualquer idade utilizam para completar
suas mensagens verbais, dar o tom (humor, indignação, raiva, etc.), pontuar,
como um sinal de positivo, ou de um beijo, para finalizar um diálogo.
Raramente, porém, alguém manterá um diálogo apenas com emojis, pois as imagens,
quer sejam ideogramáticas como stickers e emojis ou não, possuem suas
limitações sígnicas e, portanto, precisam dos signos verbais para criar os
sentidos desejados pelos interlocutores e eliminar ambiguidades.
A difusão do uso dos stickers e emojis está, portanto,
relacionada aos aplicativos que, ao disponibilizarem esse “vocabulário” aos
seus usuários, não apenas propiciam e facilitam seu uso, tornando-os triviais, como
difundem essa prática de escrita multimodal – e tudo isso, sem que a escola
ensine. Há, pode-se dizer, uma escola fora da escola, ensinando as pessoas a
escrever textos multimodais e a se comunicar. Seria bom, porém, que a escola e
os professores, não apenas os de língua portuguesa, refletissem sobre essa
forma de escrita e a inserisse no currículo escolar, para que a instituição
escolar continue sendo protagonista não apenas das práticas atuais de escrita e
de interação, como também para ensinar o que os aplicativos não ensinam, ou
seja, o uso ético, consciente e responsável da escrita, para que evitem, por
exemplo, a proliferação de boatos, mentiras, fake news, etc. que, como se sabe,
podem ser criados tanto em construções verbais apenas, mas, principalmente, em
fotomontagens e construções visuais e em textos verbo-visuais.
Para finalizar, observe-se que as tecnologias atuais não
apenas possibilitaram o uso abundante de imagens em nossas comunicações, mas
também a utilização da linguagem sonora, ou seja, muitos textos que circulam
pelas redes sociais são audiovisuais também!
7 - Será que num futuro
breve, teremos mais formas de linguagens através de meios tecnológicos?
Não se conhecem limites para as potencialidades humanas em
todas as áreas. Com o advento da conexão 5G e a IoT (Internet das Coisas, em
inglês), certamente, muita coisa mudará em nossa comunicação e no nosso modo de
viver. Se refletirmos sobre quantas
mudanças significativas o livro trouxe ao nosso modo de vida, sobre o que a
rede mundial de computadores, criada em 1991,
trouxe de mudanças comportamentais, cognitivas, sociais e políticas,
mesmo assim, não somos capazes de prever ou mesmo de imaginar o que virá com a
conexão 5G.
O certo é que somos o que clicamos. Nossos cliques na
internet valem dinheiro, geram bancos de dados, os big data, de hábitos de consumo, de perfis psicológicos
e de toda sorte de informações que as grandes companhias globais como Google e
Amazon, por exemplo, e os governos mundiais desejarem. Nossa história recente
(e atual) está repleta de exemplos dos usos dos dados coletados.
Por fim, embora possa parecer ingênua, coisa de jovem, assunto
não bem-vindo no currículo e nas práticas escolares, a internet, as redes
sociais e toda a comunicação que circula pela rede configura e reconfigura
nosso presente e nosso futuro a cada instante.